De longe em cima da colina, eu vejo um vulto
Seu manto é negro, como o céu escuro
Ele segura algo
Tem torno de dois metros e meio
Possui uma lâmina e é curva
Ele vem com um terço nas mãos,
De dentro de seu manto, somente os olhos brancos como a neve
Feições esqueléticas, mãos esqueléticas, um ser esquelético
Que é seguido por um clarão
Olho ao meu redor e vejo todos os homens com quem batalhei
E os que batalharam ao meu lado
As expressões em seus agonizantes rostos, que jamais voltariam a ver a luz do dia
Ou o sol do amanhecer, ou o sol poente
Ou a lua que cruzará os céus para juntar-se as estrelas em uma dança tão linda Que até os animas chorariam rios de lágrimas
Saio de meu corpo por instantes e vejo que o vulto espera-me pacientemente
Cantarolando uma suave melodia
Enquanto isso, vôo através de rios, florestas e cidades,
A última enfim, parece-me familiar
Casa
Vejo minha mulher e meus filhos brincando ao ar livre
Tão inocentes, quanto um recém-nascido
Tão lindos quanto às manhãs da primavera
Tão lindos quanto o desabrochar de mil rosas
Tão lindos quanto os olhos humanos podem enxergar
De volta ao meu corpo,
O vulto começa a levantar-se e vir em minha direção
Minha cota parece ficar mais leve ao tempo dos passos daquele ser
O ferimento que tanto sangrou e doeu, naquele momento era substituído
Por uma sensação nostálgica e alegre, como o acolhedor abraço de uma mãe
Ao filho que retorna ao lar depois de anos em virtude de suas conquistas
E ao chegar a cinco metros de distância de mim, tento sacar minha lança
Entretanto, ela já não está mais lá
Nem a minha cota
Nem eu em meu corpo
O vulto me puxa para um abraço como se já fossemos amigos de vários anos
Com seu braço esquelético ainda envolto em meu pescoço
Ele olha para mim, e dá um sorriso
E única coisa que eu poderia fazer, era sorrir de volta
Foi o que eu fiz
E juntos caminhamos lado a lado em direção ao clarão
Ao som de uma música angelical que vibrava
E tocava cada vez mais alto
E novamente a sensação nostálgica e alegre encheu meu corpo
Hesitante por um momento, olho para trás
Vejo meus compatriotas carregando o que um dia fora meu corpo
E com muito cuidado, ao meio de chuvas de incessantes flechas
Passam no meio da massa de pessoas até desaparecerem na multidão
Volto a andar até que vejo uma porta no meio do clarão
E nela, estava inscrito
“A porta da salvação eterna, o juízo final para aqueles que passaram pelo meio dia e o ocaso da vida com ternura, fidelidade e amor para com o seu próximo, se tens certeza de que podes passar pelos portões do eterno, pelas provas dos guardas que estão por vir, empurre a porta e estarás ao lado de teu pai celestial e seus inúmeros filhos, agora, se já não tens certeza, de meia volta e vaga pelo limbo.”
E assim o fiz...