sábado, 27 de agosto de 2011

De longe em cima da colina, eu vejo um vulto

Seu manto é negro, como o céu escuro

Ele segura algo

Tem torno de dois metros e meio

Possui uma lâmina e é curva

Ele vem com um terço nas mãos,

De dentro de seu manto, somente os olhos brancos como a neve

Feições esqueléticas, mãos esqueléticas, um ser esquelético

Que é seguido por um clarão

Olho ao meu redor e vejo todos os homens com quem batalhei

E os que batalharam ao meu lado

As expressões em seus agonizantes rostos, que jamais voltariam a ver a luz do dia

Ou o sol do amanhecer, ou o sol poente

Ou a lua que cruzará os céus para juntar-se as estrelas em uma dança tão linda Que até os animas chorariam rios de lágrimas

Saio de meu corpo por instantes e vejo que o vulto espera-me pacientemente

Cantarolando uma suave melodia

Enquanto isso, vôo através de rios, florestas e cidades,

A última enfim, parece-me familiar

Casa

Vejo minha mulher e meus filhos brincando ao ar livre

Tão inocentes, quanto um recém-nascido

Tão lindos quanto às manhãs da primavera

Tão lindos quanto o desabrochar de mil rosas

Tão lindos quanto os olhos humanos podem enxergar

De volta ao meu corpo,

O vulto começa a levantar-se e vir em minha direção

Minha cota parece ficar mais leve ao tempo dos passos daquele ser

O ferimento que tanto sangrou e doeu, naquele momento era substituído

Por uma sensação nostálgica e alegre, como o acolhedor abraço de uma mãe

Ao filho que retorna ao lar depois de anos em virtude de suas conquistas

E ao chegar a cinco metros de distância de mim, tento sacar minha lança

Entretanto, ela já não está mais lá

Nem a minha cota

Nem eu em meu corpo

O vulto me puxa para um abraço como se já fossemos amigos de vários anos

Com seu braço esquelético ainda envolto em meu pescoço

Ele olha para mim, e dá um sorriso

E única coisa que eu poderia fazer, era sorrir de volta

Foi o que eu fiz

E juntos caminhamos lado a lado em direção ao clarão

Ao som de uma música angelical que vibrava

E tocava cada vez mais alto

E novamente a sensação nostálgica e alegre encheu meu corpo

Hesitante por um momento, olho para trás

Vejo meus compatriotas carregando o que um dia fora meu corpo

E com muito cuidado, ao meio de chuvas de incessantes flechas

Passam no meio da massa de pessoas até desaparecerem na multidão

Volto a andar até que vejo uma porta no meio do clarão

E nela, estava inscrito

“A porta da salvação eterna, o juízo final para aqueles que passaram pelo meio dia e o ocaso da vida com ternura, fidelidade e amor para com o seu próximo, se tens certeza de que podes passar pelos portões do eterno, pelas provas dos guardas que estão por vir, empurre a porta e estarás ao lado de teu pai celestial e seus inúmeros filhos, agora, se já não tens certeza, de meia volta e vaga pelo limbo.”

E assim o fiz...

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