sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Enquanto a hora não chega

Enquanto a hora não chega, não me encha o saco

Enquanto eu ainda não puder responder pelos meus atos, não me encha o saco

Enquanto eu ainda me lembrar dos olhos dela, não me encha o saco

Enquanto eu ainda não souber dançar, não me encha o saco

Enquanto eu ainda cheirar como um garoto, não me encha o saco

Enquanto eu ainda lembrar onde ela mora, não me encha o saco

Enquanto eu ainda estiver com todo esse ódio, não me encha o saco

E até lá, tenha medo de mim...

Comece a me encher o saco quando eu estiver a sete palmos do chão

Quando eu estiver sóbrio

Quando eu estiver escrevendo

Quando eu estiver passando por provas

Quando eu for o último dos poetas

Quando eu começar a escrever sendo um defunto

Quando começar aquele fogo incessante de perguntas dentro de mim

Quando eu não souber a resposta do problema

Quando eu engordar

Quando eu emagrecer

Quando eu vomitar de tanto beber

Quando eu estiver internado

Assim como você sempre esteve comigo,

Assim como você está agora,

Do meu lado...

Meu lado...

Dentro da minha cabeça...

Da minha cabeça...

Dentro das minhas palavras

Dentro do meu ser

Dentro de cada átomo de minha existência corpórea

Dentro do meu sentido.

Você está tão ligado comigo que já fede a mim

Enfim, quando eu estiver com sessenta anos

E internado num manicômio com esquizofrenia

Lembrar de lugares, atos, coisas que eu jamais fiz

Pessoas que eu jamais vi

Mulheres com quem eu jamais dormi

Quando eu estiver louco, se já não o estou

Ou quando eu for preso por um mandato judicial

(Essa parte é crucial)

Pergunte a si mesmo, e veja se já podemos partir.

Sem comentários:

Enviar um comentário