Enquanto a hora não chega, não me encha o saco
Enquanto eu ainda não puder responder pelos meus atos, não me encha o saco
Enquanto eu ainda me lembrar dos olhos dela, não me encha o saco
Enquanto eu ainda não souber dançar, não me encha o saco
Enquanto eu ainda cheirar como um garoto, não me encha o saco
Enquanto eu ainda lembrar onde ela mora, não me encha o saco
Enquanto eu ainda estiver com todo esse ódio, não me encha o saco
E até lá, tenha medo de mim...
Comece a me encher o saco quando eu estiver a sete palmos do chão
Quando eu estiver sóbrio
Quando eu estiver escrevendo
Quando eu estiver passando por provas
Quando eu for o último dos poetas
Quando eu começar a escrever sendo um defunto
Quando começar aquele fogo incessante de perguntas dentro de mim
Quando eu não souber a resposta do problema
Quando eu engordar
Quando eu emagrecer
Quando eu vomitar de tanto beber
Quando eu estiver internado
Assim como você sempre esteve comigo,
Assim como você está agora,
Do meu lado...
Meu lado...
Dentro da minha cabeça...
Da minha cabeça...
Dentro das minhas palavras
Dentro do meu ser
Dentro de cada átomo de minha existência corpórea
Dentro do meu sentido.
Você está tão ligado comigo que já fede a mim
Enfim, quando eu estiver com sessenta anos
E internado num manicômio com esquizofrenia
Lembrar de lugares, atos, coisas que eu jamais fiz
Pessoas que eu jamais vi
Mulheres com quem eu jamais dormi
Quando eu estiver louco, se já não o estou
Ou quando eu for preso por um mandato judicial
(Essa parte é crucial)
Pergunte a si mesmo, e veja se já podemos partir.
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